CARTA AO ZENFONE 5 PERDIDO


Recentemente aconteceu um algo que me deixou bem reflexiva. Em uma parada do ônibus uma moça desceu e quando eu ia sentar no lugar dela eu vi um celular em cima do banco. Antes da porta fechar eu desci correndo, na chuva, no escuro, sem pensar quanto tempo eu teria que esperar o próximo ônibus, sem pensar que eu iria molhar meu cabelo, sem pensar que eu poderia deixar o aparelho com o cobrador e ela iria buscá-lo outro dia, se quisesse. Eu só pensei que aquilo não era meu e eu sabia quem era a dona, então eu tinha que fazer chegar na mão dela.
Contei o causo pra umas quatro pessoas e, pro meu espanto, cada uma do seu jeito deu a entender que não faria o mesmo. E tudo que eu pensava era que se eu perdesse o meu celular, gostaria de tê-lo de volta. Pois bem, menos de duas semanas depois, lê-se ontem, quem perde o celular no ônibus? Eu mesma.
Como nem tudo na vida acontece da forma que a gente espera, não vi nenhum anjo correr atrás de mim com o celular na mão pra me devolver, talvez tenha faltado a chuva, não sei. Mas pra espantar a bad e dar uma descontraída, escrevi uma carta para o celular que perdi e estou compartilhando agora com vocês. Alguns chamarão de futilidade, eu chamo de #fazerodiabom e não sofrer pelo que não devemos sofrer. A carta é só uma carta, o drama nunca é só por conta do celular, afinal de contas, fotos, vídeos, áudios ... não são dinheiro, são lembranças. Mas está aí.

Ao Zenfone 5 perdido,

Meu bem, você não imagina a falta que me faz. Nossa história ainda passa como um flash diante dos meus olhos, mas agora já não há nada que eu possa fazer sobre isso. Brincávamos muito de esconde esconde, eu sei, mas dessa vez você partiu, sem deixar rastros e sem sinal. Já não atende mais as chamadas de casa, nem sequer se toca. Anda meio desligado … Quem sabe sem rumo, quem sabe com um outro alguém …
Você chegou na minha vida em um momento turbulento, quando eu havia acabado de ter seu irmão gêmeo arrancado dos meus braços. Ainda assim me conquistou, e ao contrário do que muitos diziam, você era um excelente aparelho. Nada eu podia dizer contra sua bateria, ou seu processamento. Tudo bem que de um tempo pra cá você parecia cansado, apresentando incompatibilidade com alguns aplicativos, mas a gente releva. Você dormia e acordava do meu lado. Eu sei que cogitei te trocar algumas vezes, mas eram pensamentos passageiros, eu jamais te deixaria (como você fez comigo). Você me conhecia muito bem, suas lentes já me viram com e sem maquiagem. As mensagens que eu não enviava, você lia. Não tínhamos segredos entre nós, agora talvez você esteja mostrando eles a um terceiro.
Iríamos completar três anos juntos e eu guardei muitos registros seus. Tenho até um em que você aparece com a mesma capa que usava no dia em que sumiu. Acho que não tenho mais nada a dizer, exceto que você poderia ter continuado comigo, agora só me resta uma opção. Querido Zenfone, você foi um excelente amigo, mas estou te bloqueando e então você não será mais útil na minha vida, nem na de outrem. Caso volte, te recebo, caso não, passar bem.

Att,

@gabrieladja