Já passava das duas da manhã quando acordei suando e assustada com o som de um trovão, por sorte forte o suficiente para me despertar do pesadelo que estava tendo: um avião saindo da rota e entrando na minha varanda. Normal. Moro ao lado do aeroporto e costumo dizer que as aeronaves fazem a manutenção no fim da minha rua - o que geralmente não me preocupa, mas às vezes no inconsciente vira motivo de tormenta. Ontem choveu muito e o avião veio me visitar em sonhos.
Acordei tarde, lá pelas nove da manhã, por conta da noite mal dormida. Desci para tomar café e já ouvi logo um "Gabi, olha que tragédia" da minha mãe. Pensei logo, pronto, alguém morreu. Chocante. Não era uma pessoa, eram várias. A televisão anunciava setenta e um mortos em queda de avião, o avião do Chapecoense. Sem reação só fiz assistir.
Eu aprendi muito cedo que é importante discutirmos sobre todos os temas, mas três, em especial, não podem ser discutidos com qualquer um: política, religião e futebol. Eu não entendo nada de futebol, até gostaria porque é constrangedor comemorar um gol sozinha e alguém te olhar com impaciência e dizer que estava claramente impedido. Mas eu não entendo nada de futebol, mesmo assim não era preciso ser fanática(o) pelo esporte para saber que o Chapecoense vinha construindo uma trajetória sensacional da série D até aqui. Um time jovem, cheio de futuros brilhantes, muito perto de conquistar um título inédito e importantíssimo para sua história. Os caras lutaram, perseveraram e foram interrompidos no meio da guerra.
No site do G1 vi um vídeo do zagueiro Neto, aqui no aeroporto de Guarulhos, pouco antes de embarcar e o vídeo me emocionou demais. Nele o jogador diz sobre a necessidade de agradecer a Deus por ter preparado tudo isso, falou ainda que "momentos como esse passam nas nossas vidas e de repente não voltam mais" no final do vídeo ele diz aos torcedores que conta com a fé e as orações de todos. Sem nem sequer imaginar tamanha fatalidade, Neto quase narrou o futuro. Dos setenta e sete envolvidos, ele foi um dos seis resgatados com vida e agora conta com a fé e as orações não só da torcida Chapecó mas de todo o Brasil e do mundo.
E diante de um momento tão triste como esse, sinto minha fé um pouco restaurada na humanidade, porque num país onde o futebol é motivo de tantas mortes violentas anualmente, hoje todos seriam capazes de vestir uma única camisa.
Não posso me prolongar mais, já fiz um, dois, três ... dez minutos de silêncio sem saber como dar continuidade ao texto. Só posso pedir, sinceramente, para que Deus conforte os sobreviventes e as famílias das vítimas, que Jesus receba de braços abertos esses campeões (jogadores, comitiva, jornalistas e tripulação) que cumpriram com seus propósitos na Terra. E que na final que o time jogaria, Chapecoense tenha uma equipe formada de corintianos, palmeirenses, são paulinos, santistas, gremistas, flamenguistas e brasileiros. Seria lindo. Seria o mínimo.
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