RESENHA: PEQUIM EM COMA


    Por muito tempo eu pensei se deveria fazer uma resenha sobre esse livro aqui. Pensei muito porque é um livro pra poucos, é um livro pra quem tem estômago forte e pra quem não se abala fácil porque as descrições são perfeitas. Contudo el é lindo, o melhor que li esse ano, se não for o melhor baseado em fatos reais que li na vida. 
   Para quem não sabe, ou nunca ouviu falar, o Massacre da Praça da Paz Celestial foi o resultado de manifestações lideradas por estudantes da República Popular da China, que aconteceram entre 15 de abril e 4 de junho de 1989, para protestar sobre o governo corrupto e repressivo do Partido Comunista. As manifestações na verdade consistiam em marchas pacíficas pelas ruas de Pequim e tiveram início devido a morte de Hu Yaobang, um líder da RPC. Foi um acontecimento marcante, vocês devem conhecer a imagem do homem parado em frente a um tanque de guerra. Se quiserem saber mais é só dar uma pesquisada.


   O livro é narrado por Dai Wei, um estudante de biologia que foi atingido por um tiro na cabeça durante o Massacre da Praça da Paz Celestial e está em coma há quase uma década, mas que pode ouvir tudo que se passa ao redor. 
   Dai Wei viaja por todas as memórias dos momentos mais decisivos de sua vida. Em coma ele relembra a vida do pai direitista, sua infância, amores,  início da faculdade, amizades e o protesto, tudo que você precisa saber para ser jogado direto para a Praça da Paz Celestial, em 1989, como telespectador fantasma. Como consegue ouvir, Dai Wei acompanha o sofrimento da mãe para mantê-lo vivo diariamente e os esforços do governo para apagar da memória da população as lembranças dessa tragédia. Além disso é possível ter uma visão da vida atual dos seus amigos de faculdade que, quase dez anos depois, foram envolvidos pelo capitalismo chinês. 
 A narrativa tem seus momentos de raiva e de beleza, por isso é difícil se soltar das páginas. Não vou dizer que você vai ler tudo em um dia, afinal, é um livro bem grande, mas ele vai te deixar completamente preso à história, assim como Dai Wei está aprisionado em seu próprio corpo no limite entre a vida e a morte.