
Quando pequena só queria ser grande, coisas de criança nunca lhe agradaram realmente. Não gostava de bonecas, não brincava de casinha, nunca fez questão de ser a professora, afinal, tanto fazia o personagem, nada que as outras crianças fizessem lhe atrairia. Queria ser adulta, queria morar sozinha, namorar, se maquiar, andar de salto, queria ser gente grande, gente grande e rica. Um dia deitou com treze e levantou com trinta, em um quarto diferente, sem ursinhos e que ainda por cima não era só seu, uma cama de casal e um homem desconhecido do outro lado, como se não fosse estranho o suficiente, ainda tinha uma menina no meio, uns três anos ou mais. Levantou devagar, mesmo assustada andou pela casa tentando reconhecer o lugar, se olhou no espelho, não reconhecia nem a si mesma, ficou ali parada, como se esperasse que, mais cedo ou mais tarde, o relógio despertasse para que ela pudesse acordar. Esperou, esperou e nada. Nada de relógio, nada de acordar, por um instante pensou estar enganada mas a sua memória começou a voltar. Só então percebeu que o tempo passará, que agora ela era grande, grande e rica mas o que ela queria mesmo era poder brincar.
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